Interdependência ou Morte: a importância da construção das relações

Interdependência é um conceito que rege as relações entre os indivíduos, onde um único indivíduo, através de seus atos, é capaz de causar efeitos positivos e/ou negativos em toda a sociedade. Ao mesmo tempo, esse indivíduo é influenciado pelo todo. Com isso, é possível dizer que as pessoas e coisas que rodeiam a vida dos seres humanos estão interligadas e afetam a existência de todos de forma significativa.

Refletindo sobre o imenso impacto que pequenos gestos podem causar, chego à conclusão de que cada ação torna-se importante. Esta é a relação de interdependência: a consciência de que o todo depende de um único indivíduo. E cada indivíduo depende do todo para existir.

Já há algum tempo, essa reflexão vem provocando a minha forma de pensar, sentir e agir quando penso no meu entorno e, atualmente, quando me deparo com o cenário de mudanças e desafios que atinge o País, as organizações, os diversos grupos e, também, o interior das individualidades. Percebo que, a partir das transformações provocadas pelo ambiente político e econômico, estamos diante de uma imensa oportunidade de modificar a nossa forma de relacionamento. Em que mundo queremos viver? Que tipo de relações queremos construir? Como criar sustentabilidade nas relações organizacionais?

Essas e outras questões foram bastante discutidas durante a segunda edição do Fórum Brasileiro de Gestão da Mudança, que aconteceu em São Paulo nos dias 9 e 10 de maio de 2016. Nesse evento, percebi que o grande desafio está sendo preparar e apoiar os atuais tomadores de decisão para que reflitam sobre a importância da sua própria mudança interior antes de sair exigindo corte de custos, demissões, rapidez de resultado e outras tantas medidas baseadas no medo e no ego.

Estamos em uma época em que conflitos, riscos, dúvidas, metas, desafios, medos e propósitos precisam ser discutidos de forma conjunta e com cada pessoa. O diálogo passou a ser a maneira mais simples e eficaz de encaminhar as questões organizacionais. O perfil de clientes, consumidores, fornecedores e colaboradores mudou e muito. O conceito de hierarquia está sendo substituído por leveza e dinamismo nas relações. Salas de reunião estão sendo desmanchadas para dar lugar a espaços alternativos, precisamente desenhados com a intenção de despertar a criatividade e o protagonismo nos profissionais. Os tomadores de decisão que já compreenderam a necessidade de estarem todos juntos para facilitar as informações, deixaram suas salas e, lado a lado, compartilham locais comuns onde possuem um telefone, uma mesa e uma cadeira.

Hoje, o tempo é para ser investido na transição das pessoas. Não dá mais para pensar em hierarquia. É vital dar espaço para que os profissionais errem e acertem. E isso significa dar liberdade de expressão e ação. Como resultado desse movimento, as pessoas começam a criar novamente e a não ter mais medo de errar. A visão sistêmica volta a fazer parte do seu dia a dia e cuidar de riscos e resultados torna-se algo bem natural.

Nesse sentido, fico muito feliz por constatar que o tema “Gestão da Mudança e Gestão da Transição” esteja ganhando um enorme espaço nas pautas dos comitês estratégicos, na concepção e implementação de um planejamento estratégico, assim como no início de projetos e programas complexos dentro das empresas. Afinal, os artefatos da Gestão da Mudança – como Diagnóstico, Gestão de Equipes, Gestão de Influenciadores, Comunicação, Impactos e Educação – começam a ser mandatórios dentro de uma estrutura empresarial que entende a importância da união da dimensão técnica com a dimensão humana.

Finalmente, o mindset da Gestão da Mudança está sendo discutido de cima para baixo. Com isso, iniciativas como implementação de trilhas de capacitação de líderes em mudança, assessments para a compreensão de capacidades e necessidades individuais, coachings e mentorias estão cada vez mais presentes nos temas de desenvolvimento da liderança.

O líder que entende o seu papel de agente da mudança passa a servir a organização usando métodos de Gestão da Mudança que apoiam a relação de confiança a ser resgatada em toda a cultura e identidade empresarial. É na cultura da empresa que precisamos buscar elementos para alavancar o processo de mudança. Para isso, o tema mudança precisa ser desvinculado de projetos e começar a ganhar espaço no desenho da estratégia empresarial, na definição do modelo de gestão e nas intenções de melhorias do dia a dia de trabalho.

Acredito que vocês estejam se perguntando: “Como criar interdependência no ambiente competitivo em que nos encontramos hoje?” Muito fácil, basta entender que ser competitivo é saudável. Praticar a meritocracia é fundamental para criar uma cultura de transformação. Portanto, os tomadores de decisão que estão comprometidos com a criação de um clima de confiança e relações saudáveis em seu entorno, precisam compreender que competição é diferente de rivalidade. E, assim, começar a incentivar o feedback, a criatividade, o protagonismo, o autoconhecimento, o job rotation, a carreira, a comunicação, o desenvolvimento e outras tantas práticas que provoquem o clima de cooperação e interdependência.

Trabalhar a serviço do bem comum requer coragem e ousadia. Mas ninguém disse que mudar é manter-se na zona de conforto, não é mesmo? Ao contrário, é estar disposto a viver em outro país, a aprender outro idioma, outro estilo de gestão, a desenvolver novas formas de pensamento; é estar aberto para discutir a relação, dialogar sobre conflitos, estabelecer acordos claros e alinhar continuamente expectativas e capacidades individuais.

As oportunidades de aprendizado são imensas e o desafio é preparar a liderança para “esvaziar a xícara” a fim de conhecer e experimentar outros sabores e saberes, desapegando-se de velhos padrões e crenças. Para que um líder aprenda, ele precisa estar motivado para saber criar relações. E esse movimento se inicia com o autoconhecimento e com a coragem de se reinventar internamente. Do contrário, estaremos desejando mudanças e, ao mesmo tempo, mantendo o que já existe. O nome disso? Loucura. Vamos despertar?
* Kátia Soares é criadora da Agentes da Mudança, escritora, consultora especializada em Gestão de Mudança Organizacional, Mentoring e Executive Coaching.

Por |2017-10-30T11:34:39-02:0022 de dezembro de 2016|0 Comentários

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